O Sintex – Sindicato das Indústrias de Fiação, Tecelagem e do Vestuário de Blumenau comemora hoje 60 anos. Confira na coluna Mercado Aberto, do Santa, o perfil do presidente da entidade Ulrich Kuhn. Belo trabalho do jornalista Francisco Fresard.
17/02/2012 | N° 12496
MERCADO ABERTO | Francisco Fresard
O rosto da indústria têxtil
O destino quis que Ulrich Kuhn, 68 anos, permanecesse por quase três décadas à frente de um dos principais sindicatos da região.
– Acho ruim uma pessoa ficar tanto tempo. Não é certo – desabafa ao ser questionado sobre os 28 anos de liderança patronal, quase metade dos 60 que o Sindicato das Indústrias de Fiação, Tecelagem e do Vestuário de Blumenau completa hoje.
Corria o ano de 1984 quando o então vice-presidente da Artex foi indicado para assumir a presidência do Sintex. Era uma estrutura enxuta. Dividia sede com outros sindicatos patronais e exigia pouco trabalho. Um cargo pro forma, sem muito comprometimento. Mal sabia ele que iniciava ali uma trajetória de décadas.
Origem
Filho de um professor alemão e de uma blumenauense da família Rischbieter, Ulrich Kuhn é belga por acaso. Pai e mãe se conheceram em Blumenau e viviam em Berlim durante a Segunda Guerra Mundial. Ele lutou pela Alemanha e ela, grávida, foi levada para a Bélgica ocupada, em 1943, onde teve o segundo filho em território protegido dos confrontos.
A Alemanha perdeu a guerra e a família retornou a Blumenau. Como os Rischbieter eram amigos dos Zadrozny, fundadores da Artex, o pai de Ulrich foi contratado para cuidar da nova fiação da empresa, no Badenfurt, no mesmo local que atualmente abriga a Posthaus. Moravam em uma casa de madeira no meio do pasto.
– À noite as vacas esfregavam os chifres na parede do meu quarto – lembra Ulrich.
Formação
O ensino básico foi no próprio bairro e o científico (atual ensino médio) foi iniciado no Santo Antônio. Lá, foi selecionado com outros três para um estágio na Artex. Depois, bancado pela empresa, estudou por quatro anos na Escola Técnica Têxtil, em São Paulo. Na volta, deveria se juntar ao ofício do pai, mas abriu mão da oferta e foi para o Rio de Janeiro trabalhar em uma representação comercial de um amigo. O pai teve de devolver à Artex o dinheiro investido.
– Foi o período mais fantástico da minha vida – lembra Ulrich, que testemunhou, de Ipanema, a transição da bossa nova para a MPB.
Menos de um ano depois, um novo chamado da Artex foi atendido. Desta vez trabalharia com o presidente Ingo Zadrozny, de quem recebeu a tarefa de ler todas as correspondências que entravam e saíam da empresa. Galgou cargos, cumpriu o plano de carreira e chegou à vice-presidência. Saiu em 1986, com a crise instalada na direção decorrente da cisão familiar, e assumiu, em seguida, um cargo de diretor na Cia. Hering, onde hoje é consultor.
Sindicato
Como previsto, os primeiros cinco anos na presidência do Sintex foram tranquilos. A transformação veio em 1989, desencadeada pela grande greve dos mais de 30 mil trabalhadores, a maioria das indústrias têxteis. A mobilização proletária de proporções nunca antes vistas escancarou a necessidade do Sintex criar uma verdadeira estrutura sindical, com sede própria e um diretor executivo, Renato Valim, fiel escudeiro da entidade até hoje. O Sintex começava a se destacar como incentivador da economia local e estadual.
– Foi no sindicato que o governador Paulo Afonso assinou a criação do Prodec (Programa de Desenvolvimento da Empresa Catarinense) – resgata Kuhn.
Economia
Artex, Cremer, Hering, Karsten, Sulfabril e Teka ditavam o ritmo econômico da cidade até a maior crise da indústria têxtil, no início da década de 1990. Foi quando outros setores começaram a crescer. A cidade passou depender cada vez menos dos têxteis, o que é bem avaliado pelo líder empresarial:
– Blumenau, do ponto de vista econômico, é muito melhor agora que no passado. Mais sólida, menos vulnerável.
Para o presidente do Sintex, a indústria têxtil continuará crescendo, mas a participação na mão de obra de costura e confecção vai diminuir gradativamente. Por outro lado, aposta que a cidade vai se fortalecer na criação, no desenvolvimento de produtos, na inteligência que a indústria requer.
Política
Em Blumenau e São Paulo, Ulrich Kuhn liderou grêmios estudantis. Em alguns momentos teve o nome cogitado para concorrer à prefeitura, mas priorizou o lado profissional. Ficou tentado pelo convite do governador Vilson Kleinübing para assumir uma secretaria, mas optou por se dedicar à instalação da fábrica da Hering na Espanha. O mais próximo que chegou de uma eleição foi quando teve o nome cogitado para ser vice na chapa da petista Ideli Salvatti na eleição ao governo do Estado. Ironicamente, com quem havia tido várias divergências.
– Aprendi a respeitá-la e acreditava no projeto dela para a economia do Estado – justifica.
Hoje, Ulrich não está filiado à legenda política.
Lazer
– Sou um leitor inveterado. Leio, com a mesma intensidade, tudo o que cai na mão.
Ulrich também adora pescar. Sempre que pode cultiva o hobby no mar e, pelo menos uma vez por ano, compõe um grupo de empresários que se reúne para viajar e pescar. Ano passado foi no Sul do Pará.
Outro hobby é mexer com terra. No jardim da praia cuida do canteirinho e em casa planta cáctus.
Futuro
Pela enésima vez, Ulrich diz que esta é a última gestão à frente do Sintex. Torce para que o vice, João Karsten, concorra à presidência na eleição de 2014 e termine com a sequência de mandatos. Vários nomes surgiram ao longo das últimas décadas para sucedê-lo, mas sempre surgia um imprevisto que forçava a mudança de planos.
Se a corrente se romper, os livros, os peixes e a terra receberão mais atenção, assim como o trabalho e a família.
Fonte: Jornal de Santa Catarina
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