A partir deste mês, o público catarinense poderá apreciar na íntegra todas as sonatas para piano de Mozart, espetáculo que será apresentado pelo pianista Alberto Andrés Heller em quatro recitais, no Teatro Carlos Gomes. O evento é uma promoção do Teatro Carlos Gomes e Tabajara Tênis Clube, em comemoração aos 150 anos desta tradicional sociedade. O primeiro recital será no dia 11 de agosto e o segundo no dia 31 do mesmo mês. Os próximos estão previstos para os dias 19 de outubro e 8 de novembro. As apresentações serão sempre às 20h.
O Ciclo de Sonatas de Mozart apresenta as dezoito sonatas para piano solo, obras que figuram entre as mais belas e importantes da música Clássica. Apesar do fato de Mozart ter se tornado mais conhecido através de suas óperas e concertos, em suas sonatas está contido todo o riquíssimo universo sonoro que caracteriza sua música: as infinitas nuances, o colorido ora camerístico ora orquestral, a complexidade oculta em aparente simplicidade, as tramas operísticas, os jogos psicológicos, os dramas e conflitos – conjunto que encontra na forma-sonata o modelo dramático por excelência. “Na programação, será respeitada a ordem cronológica das composições, de forma que o público poderá não apenas vir a conhecer o conjunto da obra como ainda perceber as diferentes tendências na evolução estilística de Mozart”, conta Heller.
Entrevista com Alberto Andrés Heller
Neto de alemães e poloneses, filho de argentinos, nascido em Buenos Aires, mas criado no Brasil, o pianista Alberto Andrés Heller viveu desde cedo no encontro da cultura européia com a sul-americana, o que lhe permitiu transitar com facilidade entre esses dois mundos por vezes tão distantes e por vezes tão próximos. Sua técnica precisa e seus conhecimentos de composição lhe permitem uma compreensão profunda e ampla das obras que interpreta, o que valoriza as mínimas nuances da partitura. Formado como concertista pela prestigiada Escola Superior de Música “Franz Liszt” em Weimar, Alemanha, Heller vem se destacando como pianista não apenas na Alemanha e no Brasil como também em países como Argentina, Uruguai, Itália, Suíça, Áustria e Holanda, em apresentações solo, música de câmara e junto a diversas orquestras. Nesta entrevista, ele conta sobre suas expectativas acerca do Ciclo de Sonatas de Mozart no Teatro Carlos Gomes.
– Qual a importância do Ciclo de Sonatas de Mozart para Blumenau?
Alberto Heller: A cidade possui uma grande tradição em relação à música clássica, historicamente ligada ao amor profundo que a cultura germânica nutre por ela. Mas existe sempre o risco de que a cultura, ao tornar-se tradição, perca seu vigor e sua vitalidade, o que graças a várias iniciativas não tem acontecido em Blumenau. Acredito que esta série de recitais com todas as sonatas de Mozart trará uma contribuição importante em relação ao diálogo vivo entre o público e a música clássica.
– Você já teve outras experiências como esta?
AH: Experiências, mesmo quando similares, nunca se repetem, especialmente a experiência musical, que a cada apresentação muda conforme o instrumento, o local, o público e o estado em que se está no dia da apresentação. Independentemente disso, este ciclo está exigindo de mim uma preparação peculiar, pois não é fácil tocar e memorizar 18 sonatas (mais de trezentas páginas de música); tem sido um desafio diário, bem como um aprendizado intenso e extremamente rico.
– O que o público pode esperar deste Ciclo?
AH: O público (mesmo o público especializado) pode esperar surpreender-se com um compositor que todos julgam já conhecido. É impressionante a riqueza e diversidade musical contida nessas sonatas; mesmo que o estilo de Mozart seja sempre imediatamente reconhecível, ele nunca se repete. Não há uma única sonata nesse ciclo que não seja belíssima e muito bem escrita. Assim sendo, o ouvinte que estiver presente aos quatro recitais fará uma experiência profunda com a obra de um dos maiores gênios da história da música.
– Em sua opinião, o que significam as obras de Mozart para a história da música?
AH: As pessoas se impressionam com Mozart muitas vezes pelos motivos menos importantes – principalmente com a criança prodígio. Para mim, o admirável em Mozart é que nunca se disse tanto com tão pouco; sua escrita é aparentemente simples, econômica, sem grandes virtuosidades nem novidades. Mas o resultado que ele obtém, o requinte de sua sonoridade, a profundidade psicológica de suas tramas e a prodigalidade de suas invenções melódicas é algo realmente assombroso. Todos os grandes compositores e intérpretes têm aprendido com Mozart. Por isso é tão importante que, mesmo em pleno século XXI, ele continue sendo estudado e apreciado.